Embora a pandemia tenha causado duros impactos na logística de ponta a ponta, nunca houve um momento mais crucial e promissor para trabalhar estrategicamente no setor
Desde que me lembro, aqueles que trabalham em cadeias logísticas têm se concentrado amplamente em reduzir os custos operacionais. Fornecimento único e centralizado para ganhar escala, redes de transportadoras consolidadas, gerenciamento de estoque mais rígido e planos de contingência limitados contribuíram para grandes economias. Porém, existem os custos ocultos em termos de exposição ao risco. De 2000 para cá, o valor dos bens comercializados globalmente triplicou para mais de U$ 10 trilhões. Neste mesmo período, os indicadores de eficiência da cadeia de suprimentos – como níveis de estoque, entregas dentro do prazo e redução de perdas – só melhoraram!
Mas essas eficiências não vieram de graça. Vivemos hoje um cenário crescente de riscos e desafios globais diversos: catástrofes naturais, greves, pandemias, ataques terroristas, hackers cibernéticos, falsificações, roubos de cargas, quebras de fornecedores, conflitos militares, guerras comerciais, barreiras de governos, mudanças climáticas… enfim. Em suma, a abordagem da gestão logística de ponta a ponta precisa mudar – isso é urgente. Daí vem a questão latente que motivou este artigo: a resiliência na Supply Chain.
Uma cadeia de suprimentos resiliente é definida por sua capacidade de recuperação. Isso significa ter a habilidade de resistir ou até mesmo evitar o impacto de uma interrupção da cadeia de suprimentos, bem como a capacidade de se recuperar rapidamente de uma interrupção. O risco operacional e a interrupção podem ameaçar várias áreas da cadeia de abastecimento.
A resiliência da Supply Chain não implica mais apenas na capacidade de gerenciar riscos. Agora, pressupõe que a capacidade de gerenciar riscos significa estar melhor posicionado do que os concorrentes para lidar com interrupções e até mesmo obter vantagens delas. Em 2019, a PWC comentou sobre a importância da resiliência da cadeia de abastecimento: “Não se trata apenas de jogar na defesa. É também sobre jogar no ataque e encontrar vantagem competitiva ao moldar uma estratégia de resiliência da cadeia de abastecimento com foco na prevenção de interrupções”.
A tragédia humanitária da pandemia de Covid-19 reforçou que a gestão da próxima crise não é questão de “se”, mas de “quando” ocorrerá a próxima crise. Recentemente, fiz um curso de Liderança de Alto Risco e Gestão de Crises, pois especialmente em termos de logística são necessárias habilidades e ferramentas para antecipar, prevenir e gerenciar crises junto a todas as partes interessadas (stakeholders). Nas crises, as coisas mudam rapidamente para pior. Tempo e recursos são limitados. As pessoas ficam ansiosas. É o momento para líderes que despertam confiança, avaliam o cenário completo, tomam decisões com poucos dados e comunicá-las com precisão.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, efetuou uma Ordem Executiva que determina um mapeamento completo dos riscos logísticos da economia americana. Segundo Biden, “os Estados Unidos precisam de cadeias de abastecimento resilientes, diversificadas e seguras para garantir nossa prosperidade econômica e segurança nacional”. Efetivamente, vejam como mais do que nunca a resiliência logística está no centro das questões de Estado.
No curto prazo, as empresas estão preocupadas com a escassez de produtos essenciais. No longo prazo, podemos esperar uma mudança para um gerenciamento mais proativo da cadeia de suprimentos, com transparência, visibilidade em tempo real e recursos sofisticados de “forecast”, tornando-os os principais processos operacionais. Uma pesquisa da Capgemini descobriu que melhorar a preparação para crises usando simulações é uma área principal de foco para as organizações.
Mas e quanto à implementação da resiliência da cadeia logística? As empresas têm recursos para lidar com a resiliência? Onde ainda precisam melhorar para se certificar de que estão preparados para a próxima crise? Lembrem-se: e não é uma questão de “se”, mas de “quando” a próxima crise virá.
Para construir uma cadeia de Supply Chain resiliente, as empresas precisam se concentrar em três áreas-chave: segurança, agilidade e sustentabilidade.
Significa fortalecer a cadeia de ponta a ponta pela gestão de riscos e melhoria da transparência. A identificação dos pontos vulneráveis permite atacar os reais problemas. A prioridade é evitar interrupções em fornecimento de produtos ou serviços. Ataques cibernéticos também ameaçam as principais operações, segredos comerciais e dados de clientes.
Quanto mais integradas e conectadas as partes, maior a preparação para ter respostas rápidas. A configuração de torres digitais de controle é uma medida interessante: ali, temos pessoas, processos e dados analisados com apoio de tecnologia. Organizações estão aprendendo a treinar a própria força de trabalho com as habilidades digitais necessárias para construir e administrar as cadeias de abastecimento. Combinar aprendizado de máquina (Machine Learning) e essa experiência humana permite visibilidade e precisão para gerenciar melhor os riscos.
Não quer dizer apenas ser verde e ter responsabilidade social e diversidade. Deve-se ir além disso no conceito de ESG. É também uma questão de eficiência de produção, melhoria da qualidade do produto e processos, estabelecendo padrões elevados de conformidade para parceiros e fornecedores, bem como impulsionar a melhoria do desempenho. Ter estabilidade para evitar interrupções ou rupturas com perdas significativas é um pilar da sustentabilidade muitas vezes esquecido.
Embora a pandemia tenha causado duros impactos na logística de ponta a ponta, nunca houve um momento mais crucial e promissor para trabalhar estrategicamente no setor.
* Este artigo conta com dados de estudos da Gartner, PWC, Mc Kinsey e SAP.
Fonte:Revista Mundo Logistica (Por Luís Eduardo Ribeiro)